sexta-feira, agosto 25, 2006

Leonor Teles




“Durante longos minutos, os dois amantes enterneceram-se em demorados beijos e regaladas carícias. De vez em quando ele deixava escapar um gemido, esticava e encolhia as pernas, enquanto ela, numa exultação mais subterrânea que ostentada, ia ajustando as ancas à forma do pousadouro.
- Que estais a fazer, senhor conde?
João Fernandes Andeiro tinha levantado já o volumoso vestido da rainha e feito descair as suas próprias calças até aos pés.
- Oh, formosa senhora!
- Calai-vos, por amor de Deus! – aconselhou ela, ao mesmo tempo que voltava a ajeitar a posição do seu corpo contra o regaço rígido do amante.
O silêncio nos aposentos era então quase absoluto.
- Cuidado, senhor conde, cuidado. Estais a ir pelo caminho errado – queixou-se a soberana, a certa altura.
Indiferente ao aviso, o galego prosseguiu o seu propósito, segurando firmemente as nádegas da rainha de modo a facilitar o respectivo ajuste e impedir que ela se levantasse a meio do trajecto.
- Farei a coisa devagar – prometeu, num tom murmurado.
Apoiada com a mão no joelho do homem e com a outra num móvel do quarto, junto à parede, Leonor Teles esforçava-se para controlar a dor e o prazer. Só que o prazer era infinitamente menor que a dor.
Então pegou na ponta do vestido e mordeu-o com força.
- Estais a magoar-me, gentil senhor. Tirai, tirai isso que desfaleço.
- Pronto, alteza – murmurou o conde, feliz e aliviado – o que tinha de doer, já doeu.
Leonor Teles sempre se revelara um espírito aberto de luxúria e fantasia, sempre se deliciara no pecado do vício e da carne, mas nunca lhe havia passado pela cabeça que algum dia viesse a dar-se a um homem no jeito em que acabara de se dar. Talvez por isso, no fim do acto, a soberana tenha abandonado à pressa e sem palavras os aposentos de Andeiro, deixando o conde estupefacto, ainda de calças caídas, preso à cadeira do consolo dele e da tortura dela.”

José Manuel Saraiva, “Rosa Brava”

O livro “Rosa Brava” do ex-director do Expresso, José Manuel Saraiva é um romance com base na vida da nossa Rainha Leonor Teles, a Aleivosa.
A passagem, aqui transcrita, aparece numa altura em que a Rainha Leonor Teles, trai o seu esposo e nosso Rei, D. Fernando, com o Conde Andeiro. Talvez por que o autor não queria que se pusesse a hipótese de a Rainha ter um filho que não fosse do Rei, arranjou esta solução engenhosa que não permite nenhuma especulação nesse sentido. Ficamos igualmente a saber que a Rainha, embora um pouco contrariada, era uma grande “maluca”.
Gosto muito da maneira formal como os dois amantes se tratam, especialmente da frase da Rainha: “- Estais a magoar-me, gentil senhor. Tirai, tirai isso que desfaleço.”. Alguém acredita que naquele momento eles se tratariam assim??? Eu tenho algumas dúvidas.

2 comentários:

  1. Estou lendo o livro actualmente e estou a adorar. Este excerto não é de modo nenhum exemplar daquilo que trata a obra.
    Já agora, José Manuel Saraiva não é o ex-director do Expresso. Esse chama-se José António Saraiva e é o actual director do Sol.
    ZM

    ResponderEliminar
  2. Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu

    ResponderEliminar

Dúvidas existênciais

Serei assim tão desinteressante? Sei que não sou uma pessoa cativante, pelo menos numa análise superficial, mas será que perco assim tanto p...